Archive for setembro \25\+00:00 2009

Mato Grosso não é só Pantanal.

setembro 25, 2009

    Quando eu acordei, por alguns momentos não sentia minhas pernas nem meus braços, penso que meus músculos relaxaram demais e agora não queriam mais me obedecer. Enquanto eu aguardava os músculos voltarem ao normal eu pensei:

    – Será que o café da manhã é diferente para as pessoas que reservam o quarto com ar condicionado? Se seguir a mesma tendência estarei bem na foto!!!

    Tomei um banho, corri para o restaurante e surpresa!!! Nada mudou, o café continua o mesmo do quarto C.

    Peguei alguns pedaços de melancia, equipamentos de fotografia nas costas, tomei um taxi e rumei para o desconhecido, neste caso o desconhecido era a rodoviária.

    Descobri que não precisava ir direto para a Chapada dos Guimarães para encontrar as belezas naturais, eu tenho a possibilidade de comprar trechos avulsos para visitar as belezas do caminho. Neste caso, para quem sai de Cuiabá para a Chapada dos Guimarães, pode parar nos seguintes pontos:

    1 – Salgadeira;

    2 – Véu de Noiva;

    3 – Chapada dos Guimarães;

    4 – Cidade da Chapada.

    Optei por passar o dia na Salgadeira.

    A 40 km de Cuiabá, Salgadeira é um misto de balneário com cachoeiras, passeios ecológicos, restaurantes e trilhas, que você pode fazer sozinho, pois não existem guias no lugar. Não encontrei turistas por aqui, realmente é um lugar freqüentado por moradores das redondezas que buscam refresco nas águas da cachoeira para o calor acima dos 37 graus.

    Como cheguei muito cedo garanti ótimas fotos sem o fluxo dos visitantes.

 


Cascata da Salgadeira

    Conversando com o proprietário do restaurante da Salgadeira, ele me informou que existia uma trilha por dentro do cerrado que levaria ao topo da chapada sem dificuldade. Resolvi arriscar, joguei o equipamento nas costas, peguei meu apoio de caminhada e meu boné de expedicionário e parti para a trilha.

    Já no inicio da caminhada senti que não seria tão fácil como o nativo havia comentado, minha mochila já não pesava mais os 20 KG iniciais e o calor no meio do serrado é insuportável.

    Quanto mais eu caminhava, mais eu ficava preocupado com esta terra árida, repleta de folhas secas e o habitat perfeito para cascavéis, mas o cenário ia me recompensando a cada vez que o cerrado dava uma trégua e o campo limpo abria-se a minha frente.


Chapada da Salgadeira

    Passei por um córrego para lavar o rosto antes de iniciar a subida deste paredão.

    Consegui subir até a metade, o caminho não é tão íngreme quanto eu imaginava, a trilha vai serpenteando o platô até a parte superior, mas minha água estava no fim e não conseguiria descer antes do sol se pôr.

    Fiquei alguns minutos contemplando a paisagem e recompondo as forças para a descida. Neste momento senti a importância de uma boa bota, ela me tirou de maus bocados.


Cerrado

    Só consegui voltar na trilha graças ao trackback do GPS, se não fosse isso estaria lá até agora, e em menos de uma hora já estava de volta à cachoeira da Salgadeira. Em pouco tempo tomei um ônibus e voltei para Cuiabá

Amanhã volto para Chapada e finalizo os últimos atrativos turísticos antes de voltar a São Paulo.

Civilização, aí vou eu.

setembro 22, 2009

    Ao acordar a natureza me deu um belo presente, da porta da barraca eu apreciei este belo iniciar de dia. Foi o sinal que seria um final de viagem muito bacana.


Amanhecer visto da barraca

    Quem disse que desejos não são realizados, depois de tomar um bom banho, já com o meu sabonete, e escovar meus dentes, com minha escova milionária, apareci na cozinha da pousada e lá estava o Dodô agarrado em uma colher de farofa e um copo de suco de melancia.

    – Bom dia chefe, tem lugar para mais um nesta mesa?

    – Lugar até tem, só não tem comida, e logo abriu um sorriso igual a uma sanfona velha!!!!

        – Patrãozinho, ta em cima do fogão, vai lá e pega um teço pru sinhô.

    – Opa, não precisa mandar duas vezes.

    Peguei o meu prato, me aproximei do fogão de lenha e não economizei na colher do quebra torto.


Fogão a lenha

    Com tudo em ordem agora, chegou o momento de desmanchar o último acampamento para voltarmos à cidade. Fiz esta última foto do que foi a minha morada por estes dias.

 


Acampamento

    Prometia ser mais um dia de calor, enquanto eu estava arrumando a barraca o Hélio arrumava o lugar onde deveria ficar o barco até a próxima temporada ou até a nova vazante do Pantanal. Daqui para frente o clima de cheias deve prevalecer por aqui.

    Pegamos a estrada, ela parecia diferente agora, um pouco pior, e por conta disso tivemos que reduzir a nossa velocidade para incríveis 25 km por hora.

    Ainda no meio do caminho eu consegui uma cena que era uma das minhas ambições como fotógrafo, a figura do homem pantaneiro levando o gado de um campo para o outro. Nesta época, este movimento de migração para os campos mais altos é muito comum porque, dentro de mais alguns meses, as chuvas trazem as cheias para limpar e purificar o Pantanal. Esta rotina deve permanecer até o final desta estação e o início da vazante.


Pantaneiro


Pantaneiro

    Consegui ótimas imagens neste retorno. Alguns jacarés pareciam querer serem fotografados, ou estavam com fome mesmo esperando algum fotógrafo desavisado.


Vai dar mole para ver.


Eu falei que estava calor

Trajeto igualmente difícil para a volta, relógio marcando 37 graus com sensação térmica de 50 graus. Não é para menos, Cuiabá é sempre mais quente que as outras regiões do MT.


Logo acima das horas, a temperatura

    Às 13h00min cheguei ao hotel, no mesmo hotel que fiquei quando cheguei a Cuiabá. Resolvi dar mais uma chance, não é possível que este hotel fosse de todo ruim. Escolhi agora um quarto com ar condicionado.

A recepcionista perguntou se eu me importaria com a cama de solteiro, era uma cama BOX, prontamente falei que não haveria problema algum. (Se ela soubesse por onde eu andei dormindo nestes dias…).

    Agora estou no quinto andar, a vista não melhorou muito, mas o quarto… Parece até outro hotel.

    Foi bom passar um pouco de trabalho para dar mais valor as coisas que temos.

    Hoje passei o resto da tarde neste quarto, curtindo o ar gelado, conversando com amigos que fiz aqui e programando o roteiro para o próximo dia. A idéia é conhecer a Chapada dos Guimarães, este trajeto eu pretendo fazer sozinho e com a ajuda do GPS.

    Angariei algumas informações na recepção do hotel e fui jantar na Peixaria do Okada. Depois de comer uma Tucupira inteira fui dormir sentindo a expectativa de conhecer as próximas paisagens do MT.

 

    

O retorno da aventura

setembro 21, 2009

    Com a tarefa cumprida, o adiantar da hora nos lembrava que já era momento de comer alguma coisa. Em nosso barco tínhamos muita água dentro de um isopor, alguns biscoitos e frutas, um saco de carvão, sal e fósforos. O suficiente para fazer um belo almoço em alguma barranqueira do velho Cuiabá. Claro que não fizemos espetinhos de frutas, com um rio repleto de piranhas, não foi difícil arrumar almoço.

    Saímos do local onde encontramos a onça, Latitude 17°16’36.71″S e Longitude 56°41’30.33″O para encontrar um lugar para almoçar.

    Ancoramos o barco em uma ponta de terra, no encontro das águas do rio Piquiri e o Cuiabá, Latitude 17°18’25.04″S e Longitude 56°43’12.05″O

    Depois foi só pegar algumas minhocas e jogar na água. Não demorou muito para fisgarmos algumas piranhas que serviram como nosso almoço.

    Nem pensei em levar o repelente, pois os mosquitos geralmente atacam ao amanhecer e no entardecer, só que acredito que aqui eles estavam trabalhando 24×7, enquanto mordia um filé de piranha ao mesmo tempo brigava contra os mosquitos.

    Pensei em fazer um buraco para enterrar as partes não aproveitadas do peixe mas os caracarás apareceram e sobrevoaram o nosso churrasco improvisado. Não deu outra, atirei o que sobrou do almoço e as aves cuidaram de fazer toda a limpeza da área.

    Arrumamos tudo e voltamos para o Porto, precisaríamos levar o barco até a fazenda do Rio Clarinho e o final de tarde estava chegando. Enquanto o Hélio conversava com o rebocador para colocar o barco no reboque eu fui fazer umas fotos do Hotel Porto Jofre.


Andorinha


Vitória Régia


Panorâmica da fazenda

    Durante a caminhada pelos alojamentos da fazenda eu encontrei uma espécie de vendinha, vendia de tudo inclusive CREME E ESCOVA DENTAL. Não sabia se ria ou se chorava. Se ria de alegria por que eu poderia escovar os dentes de verdade ou se chorava pelos R$ 18,00 que estavam me extorquindo naquele momento. Bom, não tinha muita solução, ou eu comprava ou continuava sem. Nem precisa comentar que não existe cartão de débito ali, nunca foi tão inútil ter um VISA na carteira. Corri para o banheiro e agora estava escovando os dentes como nunca antes, meu amigo e dentista Dr. Rodrigo deve estar dando gargalhadas agora.    

    Agora sim, com o barco no reboque paramos novamente na Pousada Rio Clarinho para montar o último acampamento de pernoite. Chegamos por volta das 09:30 da noite, montamos o acampamento, conversamos com um grupo de alemães que estavam visitando o Pantanal e logo fui dormir. Fiquei imaginando como aqueles alemães estavam se virando com as pernas cheias de brotoejas devido ao mosquito e às caminhadas na mata. Por fazer calor eles não andavam de calças compridas e literalmente foram pegos de calças curtas.

    Só aqui para encontrar cenas como estas, tivemos que parar o carro para “enxotar” jacarés que insistiam em ficar no meio da estrada, eles estão certos, quem está invadindo o ambiente deles somos nós. Sobrou para eu fazer mais algumas fotos e empurrar jacaré para a beira da rodovia.

    Dormi pensando: – Bem que amanhã poderia ter aquela farofa do Dodô, o tal de quebra torto.

Em busca do maior predador do Pantanal – A onça.

setembro 20, 2009

    Que noite hein, era para ter sido a melhor das noites por aqui, isso se não fosse fato de ter que dormir no mesmo quarto dos guias de turismo. Era como se cada um tivesse trabalhando com uma motosserra a noite inteira. Se eu resolvesse sair do quarto os mosquitos me carregavam, se eu ficasse não dormiria também. Bom, resolvi ficar no quarto e pelo menos não teria problema com os mosquitos.

    Saída prevista para 04h30min em direção a Porto Jofre, tudo preparado, ainda sem minha escova de dentes e com mais um agravante, eu esqueci na última fazenda o meu sabonete. A sorte foi que consegui uns sabonetes na própria pousada e assim consegui tomar um banho descente, coisa rara por aqui.

De madrugadita, hora boa de viajar. Não consegui dormir no carro devido aos solavancos da estrada, mas logo depois de alguns kilômetros já encontrei mais um típico morador do Pantanal. Ainda tive sorte de conseguir “convidá-lo” para tirar uma foto comigo!!!

    Mais duas horas já chegamos ao Hotel Porto Jofre, às margens do Rio Cuiabá. Hotel com grande infraestrutura para receber turistas com todos os objetivos, desde contemplação das araras à pesca esportiva.

O barco já estava no cais, só colocamos os isopores, material fotográfico e outras tranqueiras e partimos sobre o Rio Cuiabá, 4 horas rio acima até o local onde a onça foi avistada pela última vez.


Saída do hotel para as embarcações.

 


Araras Azuis no Hotel Porto Jofre – Não são do Hotel, apenas vivem lá por vontade própria.

 

Enquanto subíamos o rio, não tive como deixar passar uma paisagem triste, ele está secando. Tudo bem que estamos na vazante e as chuvas devem começar ainda neste mês, mas pela fotografia podem ter uma idéia da largura deste rio e acreditem, tão raso que foi preciso levantar o motor várias vezes para não ficarmos encalhados. Nas barranqueiras a situação é pior ainda, os fazendeiros desmataram tanto o leito do Cuiabá que o ele próprio engolindo partes das propriedades ribeirinhas.

    Sabia da importância da mata ciliar, agora ver isso com meus próprios olhos é muito diferente do que aprendemos nos livros. É simplesmente triste ver um rio, antes navegável por chalanas durante o ano inteiro e agora comprometido pelo do assoreamento.

    Muito triste ver árvores caindo e barrancos desmoronando no leito do rio enquanto passávamos de barco.

    O GPS nos guiava com precisão pelos caminhos deste rio, tenho que me garantir, pois é muito fácil perder-se por aqui, ainda mais por que vamos vasculhar cada afluente deste rio para poder encontrar a onça e tudo parece muito igual.

GPS mostrando o leito do rio Cuiabá.

O calor só não estava pior por que estávamos em alta velocidade e o vento refrescava um pouco, em contrapartida, eu já colocava em cheque a potência do bloqueador solar no rosto, estava sentindo um pouco de coceira, meu pescoço já estava em brasas e as picadas de insetos ficavam cada vez mais salientes. O vento quente chega a ser pior que o sol muitas vezes.

    Passamos por um barco com alguns turistas, certamente também tinham ido em busca da onça. Paramos para conversar e perguntar se obtiveram sucesso.

    -Opa,

    – Bom dia Moço

    – Avistaram algo companheiro?

    – Pois olha, a bichona estava lá, mas não arriscamos ficar mais perto, estava com o bote armado.

    – Obrigado, vamos pensar no que vamos fazer ainda.

    – Cuidado amigo, a bicha deve ta prenha, tá arisca que só.

    Foi com este diálogo que o barqueiro foi embora, o Hélio cogitou a possibilidade de retornarmos. Sem acordo eu disse. Vim aqui para fotografar esta fera pantaneira e é prá lá que vamos. Se quiser fica no barco, ela não deve entrar neste rio cheio de piranhas, será tranqüilo, complementei. Falando assim parecia um Indiana Jones, mas só eu sei o esforço que fiz para falar isso.

    O Hélio não estava muito confortável, eu não estava nem aí com o fato, enquanto arrumava o tripé no barco, pensei que a possibilidade de encontrarmos uma onça neste horário é muito remota e por isso estava mais a vontade.

    Entramos em um braço morto do rio Cuiabá, lugar mais provável de acordo com a indicação do piloteiro com quem conversamos. Chegamos com o motor desligado, sem fazer alarde e, entre uma conversa e outra, fiquei observando uma ariranha com seu almoço.

    Depois de quase uma hora observando os barrancos, já com vontade de ir embora, cabeça doendo, sol quente e mosquitos em pleno sol a pino, já estava desistindo quando escutamos galhos quebrando no meio da mata. Ali estava ela, bem na nossa frente.

    Estava nos observando, escondida no capão de mato. Por muitos instantes gelei, senti que não poderia fazer nada e que a qualquer momento um dos dois deveria sair do seu lugar, ou ela ou nós. Ficamos nos olhando por horas a fio até que ela resolveu sair.

    Só estando frente a frente para entender a emoção de ver este grande felino em seu próprio habitat. Estudando um pouco mais sobre a onça pantaneira, descobri que sozinha não oferece grandes riscos para o seres humanos, mas caso ela esteja com filhotes, todo o contato deve ser evitado. Um animal deste tamanho alimenta-se de caça de médio e grande porte, podendo eventualmente atacar um boi adulto. Muitos criadores de gado têm problemas com a onça do Pantanal e alguns acabam caçando para defender o gado. Esta atitude, porém, acaba desequilibrado o eco-sistema e gerando o crescimento excessivo de populações como a da capivara, o que também traz malefícios para o gado (transmissão de doenças) e a natureza em geral.

    Tarefa concluída, sensação do dever cumprido. Temos que nos afastar lentamente para não assustar o bichano e voltar para Poro Jofre. Agora mais 4 horas rio abaixo e deveremos chegar no final da tarde ao hotel Porto Jofre.


Ambulantes

Vendedor ambulante não é uma característica só das grandes cidades, embarcações como esta são muito fáceis de serem encontradas durante todo o percurso pelo rio Cuiabá. São chalanas pesqueiras que rebocam pequenos barcos artesanais. Quando este misto de barco, casa e comércio ancora em algum lugar, pescadores munidos com suas linhas e anzóis, e somente isso, embarcam nas suas canoas escavadas no tronco das grandes árvores para pescarem peixes nobres do rio.

A compra de peixe fresco pode ser feita na própria chalana ou quando a embarcação encostar para vender o pescado a seus clientes fixos da margem do Cuiabá.

Do primeiro acampamento até o segundo pernoite

setembro 19, 2009

    04h45min da manhã e escuto chamarem o meu nome, totalmente assustado encontro o Hélio na porta da barraca gritando para que pulasse rápido para ver o sol nascer no mirante da fazenda Rio Clarinho.

    – Pow Hélio, ainda está tudo escuro….

    – Levanta rapaz, levanta que não vai dar tempo.

    – Tempo de quê? Eu ainda tenho que escovar os dentes… (havia esquecido que não tinha escova)

    – Que escovar os dentes o quê, pega a foca (lanterna) para não tropeçar em algum jacaré e vamos…

    Pensei: – Toma gaúcho, quem procura acha… Lá fui eu correndo, tropeçando nas botas, cara amassada, tripé em uma mão, câmera na outra e mochila nas costas. Quando chegamos ao mirante, me deparei com uma estrutura gigantesca de escadas ao redor de uma das maiores árvores da fazenda. O que me apavorou não foi o tamanho e sim todos aqueles degraus que eu ainda tinha que subir correndo para não perder o dito sol.

    Nascer do sol na Fazenda Rio Clarinho.

    Lá de cima dava para escutar todo o Pantanal acordando, eram os bugius roncando nas árvores, os jacarés fazendo barulho na beira do rio e até o vulto de uma anta eu consegui visualizar lá de cima.

    Em terra firme novamente, fiz esta foto para ter uma idéia da altura do “andaime pantaneiro”

 

 

Voltando para a fazenda, agora já dia alto, era hora de desmanchar o acampamento e tomar um café junto aos pantaneiros. Prato Principal: Quebra Torto (uma espécie de farofa de banana verde com carne de sol) feito pelo Negro Dodô, sabe que até estava bem bom e garantiu o meu sustento até umas 13 horas.

 

    Dodô

Acampamento desmontado, tudo dentro do carro, partimos para a próxima parada, Pousada Puma Lodge . Daqui para frente o celular não funciona mais, tudo na base do rádio e a energia elétrica só por gerador.

O sol não nos perdoou, pegamos a Transpantaneira às 08h30min, sempre encontrando surpresas pela estrada que nos fizeram esquecer o calor por alguns instantes.

 

IPE ROXO, já desflorado.

Tuiuiu

 

A chegada no Puma Lodge e a recepção do Sr. Marcos

Em troca de algumas fotos da pousada, o Sr. Marcos, proprietário da pousada, nos garantiu o pouso para esta noite. Como chegamos um pouco antes do meio dia eu já aproveitei para pagar logo a minha parte.

Agora ficamos bem, o Sr. Marcos não deixou que eu armasse a barraca e nos emprestou um quarto, já que naquela noite a pousada estaria com poucos hospedes. Claro que aceitei de prontidão e sem titubear, “cavalo encilhado não passa duas vezes”.

Passamos a tarde por lá, e quando o sol nos deu uma folga, saímos para procurar um pássaro cada vez mais raro no Brasil, o Urutau. O Uurutau é um pássaro raro, conhecido como ave-fantasma, é um dos pássaros mais cultuados na literatura fantástica. Ele também aparece em lendas, poesias e raramente é observado na área urbana. Espécie em extinção, o Urutau existe há pelo menos 20 milhões de anos, muito antes do “Homo sapiens” surgir na Terra.

O Urutau é uma ave rara porque para se camuflar facilmente. Procura uma extremidade de um galho, se adaptando de uma forma que se toma o aspecto de prolongamento do galho.

 

O jantar e a reinvenção do telefone

Um dos passeios oferecidos pela pousada é um roteiro de pesca pelo rio Cuiabá. Um casal de hóspedes estava chegando deste passeio com algumas piranhas e para não jogarmos fora os peixinhos, fizemos uma piranhada ensopada acompanhada de pirão e arroz.

Entre uma conversa e outra eu vi o pessoal da pousada conversando pelo celular, fiquei curioso e pensativo sobre como poderia o celular funcionar ali e foi quando o Sr. Marcos nos apresentou uma antena que ele mandou colocar nos fundos da pousada, com mais de 60 metros de altura, era a garantia de um sinal fraquinho, mas o suficiente para dar noticia à família. Internet e cartão de crédito no pantanal, NEM PENSAR.

Já que não teremos barracas para desarmar amanhã, temos que levantar mais cedo que o normal e encarar o destino final desta viagem, Porto Jofre, onde encontraremos a Onça do Pantanal. Assim eu espero.

No caminho para Fazenda Rio Clarinho

setembro 17, 2009

    No começo toda a aventura é uma festa, tudo é novidade e as surpresas aparecem a cada curva ou sobre cada mourão de cerca. Meu estomago não reclamou do comercial pantaneiro, mas estava sentindo mais sede que o normal, antes do início da transpantaneira já havia consumido quase dois litros de água e sentia-me literalmente vazando por todos os poros da minha pele, situação desconfortável.

    Dentro do Gol preto do Hélio, meu relógio marcava 37 graus e o asfalto parecia derreter até que ele simplesmente sumiu, eis que a aventura começa a ficar emocionante. A transpantaneira, MT 060, é uma estrada que liga Poconé ao Porto Jofre. Esta estrada é tão antiga quanto os “causos da sucuri do Pantanal”. Sua construção foi iniciada em 1972, na cidade de Poconé, e seguiram por mais 4 anos de aventura até as margens do rio Cuiabá, hoje Porto Jofre.

    Uma curiosidade interessante são as pontes de madeira ao longo do trajeto, são 125 pontes ao longo dos 145 kilômetros. Esta grande quantidade de pontes foi também responsável por reconhecer a Transpantaneira como a estrada com maior número de pontes de madeira do mundo. Consegui catalogar todos os pontos através do GPS.

De Poconé até a Fazenda Rio Clarinho são em média 35KM, estes foram feitos em 4 horas, assim vocês já podem ter uma noção da conservação da estrada. Após entrar definitivamente no Pantanal, o sentimento é como se o mundo fosse outro, como um portal onde tudo vive na mais perfeita harmonia e preservação, pelo menos a lei tenta manter a ordem por aqui.

          Enquanto eu ia fazendo algumas fotos, ia lembrando se não havia esquecido de nada, sentia que algo não estava bom e isso eu iria descobrir mais tarde, após o horário do jantar. Meu estômago não teve escolha, teve que se acostumar com a comida local ou teria que comer grama. Comida industrializada ou enlatada é uma raridade por aqui e só me resta confiar na cozinheira da fazenda.

Abaixo de cada ponte de madeira uma surpresa, pequenos lagos infestados de jacarés. O seu único predador são as onças, estas por sua vez estão limitadas à pequenos números, logo a sua população aumentou tanto que hoje estima-se que existam em média 6 milhões de jacarés na região pantaneira Segundo os pantaneiros, os Jacarés são animais inofensivos, mas preferi não ficar muito perto para comprovar.

Chegamos à Fazenda por volta das 17h30min, paramos para conversar um pouco com o proprietário, Sr. Afrânio, que nos recebeu muito bem, permitiu que eu armasse o acampamento próximo a casa grande e fizesse minhas refeições por ali mesmo. O Hélio, já é de casa, ficou no quarto dos Guias do Pantanal.

O repelente funcionou bem, o calor era demasiado, mas não consegui terminar de inflar o colchão e montar a barraca antes do sol ir embora. Só neste momento que me dei conta que estava com o relógio uma hora adiantado, aqui no MT existe a diferença de uma hora a menos referente ao horário de Brasilia.

Nesta noite não jantei, ainda estava conversando com o “prato comercial” que estava parado em meu estômago. Tomei um banho e … Sabia que estava faltando alguma coisa: Pasta e escova dental. Deixei no Hotel em Cuiabá. E agora? Terminei escovando os dentes no melhor estilo creme dental no dedinho. Que situação, mal começou o passeio e já estou perdendo minhas coisas. E o que mais me apavorou não era a falta da escova e sim o quanto poderiam me cobrar por um artefato de luxo nos confins do Mato Grosso onde a Coca Cola custa quase 5 reais.

Melhor ir dormir, amanhã será outro dia e, enquanto caminhava para a barraca fui pensando: O Fantástico nunca teria encontrado o Belchior se ele estivesse acampado no Pantanal.

O outro dia…

setembro 17, 2009

    Não sei se acordei ou continuo dormindo, só me lembro que eu corajosamente abri o chuveiro antes de vir dormir. Lindo dia em Cuiabá e, meu estômago lembrou, é hora de tomar aquele café da manhã. Tomei outro banho, pois agora são 06 da manhã e meu relógio marca 30 graus. Onde vai parar este termômetro?

    Desci e no lugar do meu cereal matinal, farofa de banana, salsicha cozida (esta deu medo) frios, que mais pareciam quentes de tanto o sol que estavam pegando, e alguns pães e frutas. Preferi as frutas.

    Dentro de mais alguns minutos o Hélio, nosso guia, ligou avisando que passaria no hotel para conversarmos sobre o roteiro e aproveitar para fazer umas compras para nossa aventura. Assim que ele chegou decidimos que iríamos para o supermercado para depois prepararmos o carro e partir para o Pantanal. Este seria o teste de fogo, os restantes das atrações poderiam ser vistas rapidamente, mas precisaríamos de um tempo especial para dedicar à Transpantaneira, estrada esta que corta o Pantanal de Poconé até Porto Jofre, terminando no Rio Cuiabá.

    Compramos o necessário, passamos na casa do Hélio para baixar o banco do Gol e carregar com barracas, colchões infláveis, churrasqueira e demais itens que necessitaríamos para um acampamento. O Hélio também quis aproveitar a minha estadia pelo Pantanal para fotografar algumas pousadas para o seu site de turismo pantaneiro e utilizar este marketing em troca de um banho ou alguma acomodação enquanto a seguimos a viagem (Já notei que tudo aqui é moeda de troca, desde que possa interessar alguém).

    Saímos de Cuiabá próximo ao meio dia, passamos no posto de gasolina para abastecer o veiculo mais as bombonas com álcool extra para o carro e gasolina para a lancha, que nos levará até a onça pintada do Pantanal. O alcool extra é um ponto de atenção, pois durante os 148 km de chão batido da Transpantaneira só existe um posto de combustível e este com valores que ultrapassam o senso comum.

    Almoçamos um “prato comercial” em Poconé e seguimos na transpantaneira em direção à pousada do Rio Clarinho, nossa primeira parada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aqui termina o asfalto e inicia a Rodovia Transpantaneira, 100%  terra.

 
O início da rodovia que corta o coração do Pantanal.

 
Surpresas pelo caminho, um Socó Boi.

A chegada em Cuiabá

setembro 14, 2009

Avião atrasou um pouquinho para chegar e uma surpresa logo que se abre a porta do avião, meus óculos ficam instantaneamente embaçados. Não sentia isso deste o século passado quando estive na região de Belém do Pará. Já vi que realmente não seria muito fácil para eu me adaptar (também me veio a letra do Arnaldo Antunes e Nando Reis, mas isso é outra história… Foco, como diz meu amigo Atanes).

    Este é o primeiro aeroporto em que eu consigo enxergar o que está atrás da esteira que traz as malas, e sabe o que tem lá? Nada… Ela só dá a volta e continua do outro lado. Se todos estão rindo agora, digam que nunca pensaram para onde vão as malas depois que entram na esteira. Não vale dizer que vão para o limbo porque a igreja católica eliminou o limbo, logo esta opção está totalmente descartada.

    Curado da frustração da esteira , fui encontrar com o meu amigo Hélio, ex colega, trabalha no ramo de TI e ainda é guia pantaneiro, gente boníssima, e vai nos guiar nesta semana do circuito fotográfico. Papo vai, papo vem e ele me conta que não seria possível ficar na casa dele por esta noite, que estava meio bagunçado e tal, mas arrumou um hotel bacana para eu ficar, pertinho da casa dele. Sem titubear eu aceitei e disse que não sou de muito luxo.

    Despedimos-nos e marcamos um café da manhã para planejarmos o roteiro da semana. Logo que entrei no hotel pensei que o atendente não soubesse falar, quando eu já ia tentando a linguagem universal dos sinais ele me pede a identidade. Depois de mais 10 minutos, ele pergunta:

    – Sinhô qué hospedage cum ar ou sem ?

            (Já fiquei imaginando que a sem ar deveria ser uma câmara daquelas dos campos de concentração alemães, mas resolvi arriscar.)

    – Eu prefiro sem ar, sabe como é, estou me acostumando com o clima e posso ficar adoentado. Tem ventilador?

    – Segundo andar à direita, com ventiladô. (esta foi a resposta sem cortes, e precisa de mais corte?)

    Peguei minhas mochilas, minha chave com um chaveirinho muito delicado, e subi dois andares. Chegando ao quarto, suando bicas, vi que logo mais a frente estava o elevador. Preferi acreditar que o individuo não o sugeriu por estar quebrado. Também não fui perguntar.

    Lembra quando eu falei que eu não era de muito luxo? Pois é, mas não precisava ser sem NENHUM LUXO. Duas camas de solteiro, um telefone daqueles com um disco, que mais parece das meninas super poderosas, um guarda roupa da marca GAUDÊNCIO (é sério) e uma TV no canto superior direito com um Bombril na antena. O piso é de lajotinha vermelha e vou poupar dos detalhes do banheiro. Tem água, mas já são quase 3 da madrugada e estou com medo de abrir o chuveiro…

    Bom, amanhã é outro dia, e, se quiserem me visitar, o quarto é o 203. Veja a foto do chaveiro para não esquecer onde estou hospedado.

    Abraço para todos e lembrem-se: – O pior ainda está por vir.

O início – Aeroporto de Viracopos / São Paulo

setembro 13, 2009

    Às 18h00min deste dia 13 de setembro, cheguei ao aeroporto de Viracopos com todas as mochilas e equipamentos necessários para o início do Circuito Fotográfico. Nesta organização de bagagem eu redescobri a importância da contribuição de uma mulher para o sucesso de um homem, minha esposa quase me fez desmanchar as malas 3 vezes, pois sempre lembrava de alguma coisa que eu certamente acreditei que não precisaria… (Agora se eu não precisar de verdade a gente conversa na volta … rsss)

    Com tudo pronto para emissão do bilhete, fiz algumas perguntas básicas para o atendente sobre o tempo em Cuiabá, ele deve ter olhado para a minha cara e pensado: – A única viagem da minha vida foi da Paraíba para São Paulo, ainda no colo de minha mãe, e tu acha que eu vou saber do tempo em Cuiabá? Mas gentilmente ele respondeu… Deve estar igual aqui… Tá bom, então me dê meu bilhete e despache este encosto (Morey que me desculpe, mas mochila cargueira preta mais parece um encosto que mochila), e assim o fez e parti para o Raio X somente com os equipamentos de fotografia.

    Claro que aquela fotocopiadora gigante apitou e mais rápido que eu pudesse imaginar, brotou uma mulher a minha frente que pediu para eu tirar o cinto, achei melhor não fazer gracinhas naquele momento, atendi sua solicitação sem titubear.

Ao pegar os equipamentos do outro lado, lá vem a moça:

    – Senhor, o que leva aí?

    – Equipamento fotográfico, por quê?

    – Por nada não, mas poderia abrir a mala? Procedimento de rotina.

    – Claro, sem problema…

    Ao abrir a mala, a faceta de admiração: – Tudo isso são câmeras?

        – Não minha senhora, são lentes, corpos, etc etc etc….

        – A bom… Passou a mão em tudo, como um passe para sentir a energia do pobre equipamento e disse: … TÁ LIBERADO..

    Heheh Ainda bem. Imagine ser barrado antes mesmo de iniciar a aventura.

Agora, rumo a Brasília e de lá para Cuiabá.

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